Campeã, em 2016, em mobilidades
urbana, pelo programa Cidades Sustentáveis, pela redução das mortes no trânsito
em 33% e a diminuição dos acidentes em 35%, a primeira capital do brasil sofre
com engarrafamentos diários em diversos pontos da cidade. Por via da falta de
planejamento urbano no passado, a cidade não consegue lidar com o atual
contingente automobilístico, tornando o fluxo de suas vias frágeis e por vezes
afunilado. Isso faz o tempo de locomoção dentro da cidade aumentar, afetando a
população devido ao tempo gasto no trânsito, principalmente para a classe
trabalhadora, já que os horários de maior movimento são no início e no fim do
dia.
A poluição do ar nos congestionamentos
de trânsito é três vezes maior do que em outras áreas urbanas, segundo
Laboratório de Poluição Atmosférica da USP (Universidade de São Paulo). Com
grau maior de proteção para as pessoas que estão em carros, devido aos filtros
de ar presentes no aparelho de ar condicionado, e maior dano e risco de doenças
respiratórias para os que andam de ônibus e demais transportes. Ou seja, os
menos afortunados, que não possuem carros, ou os que optam por transporte
alternativo, são os mais afetados pela falta de planejamento da mobilidade
urbana.
Mobilidade urbana define o
deslocamento das pessoas em uma cidade, é também atrelada a “facilidade” para
se mover/deslocar. Atualmente mobilidade urbana está diretamente associada aos
transportes alternativos (ônibus, metrô, bicicleta, etc.) em detrimento do
individual: o alto contingente de carros presente no planeta gargalha as ruas e
avenidas das cidades, por ocuparem bastante espaço quando comparado aos ônibus
e metrôs, além de na maioria das vezes não estarem em seu limite de ocupação,
desperdiçando considerável espaço.
Com a proposta de dispersar os
engarrafamentos na cidade, a Prefeitura Municipal de Salvador, lança em 2018 o
BRT (Bus Rapid Transit), fluxo rápido
de ônibus, em português, com o objetivo de ligar o bairro da Lapa ao Iguatemi.
Contrário ao seu conceito, o BRT, terá vias exclusivas para carros, contra
apenas uma para ônibus, priorizando o transporte individual ao coletivo, como
mostra o professor da Universidade Federal da Bahia, Juan Pedro Moreno Delgado,
em entrevista ao portal de notícias G1.
Orçado em mais de 800 milhões de
reais, o trecho planejado passa por cima de dois rios, o Lucaia e o Camarajipe,
ambos poluídos por esgoto doméstico e lixo, que logo serão tamponados para a
execução do projeto. Também é prevista a retirada de 570 árvores, das quais a
prefeitura afirma que 154 serão cortadas, 169 transplantadas e 247 preservadas.
Contudo a área verde do local não mais existirá, dando lugar a elevados de
concreto, desvalorizando os imóveis nas proximidades, aumentando a temperatura
na região e diminuindo a área de escoamento das chuvas, podendo causar
alagamentos.
A carência de políticas de planejamento
urbano faz Salvador sofrer constantemente com a degradação do meio ambiente.
Poluir e tamponar rios é tarefa comum em meio as obras de infraestrutura urbana
da capital baiana, seguindo a justificativa de que o rio não é mais
"rio" e sim esgoto. Essa postura põe em cheque todas as 12 bacias
hidrográficas de salvador, já que a depender da necessidade pressuposta pelo
governo, um rio pode ser canalizado e posteriormente degradado. Exatamente como
aconteceu ao rio das Tripas, no bairro da Barroquinha: poluído e tamponado; ao
rio das Pedras, localizado no bairro do imbuí: poluído e tamponado; ao rio dos
Seixos, na Avenida Centenário: poluído e tamponado; e ao rio Lucaia, na avenida
Vasco da Gama: poluído e futuramente tamponado.
Países como Inglaterra e Coréia do
Sul, no passado poluíram ativamente seus rios, hoje estão em processos
reparatórios desses ecossistemas aquáticos, percebendo que eles fazem parte da
sociedade, como riqueza, tendo apenas a agregar valor as comunidades em seu
entorno, permitindo não só atividades econômicas como de lazer. Ou seja, cuidar
e proteger reservas de água, recurso tão importante para a vida, é fundamental
para o bem estar social.
Tratar o esgoto antes do despejo é essencial
para a recuperação de um rio. A exemplo do rio Tâmisa, na Inglaterra, na década
de 60, em que o sistema de tratamento removeu quase 100% de todo o esgoto. Na
contramão, mais de 30% do esgoto de Salvador é lançado aos rios e
consequentemente ao mar sem tratamento.
Como uma grande metrópole, Salvador
produz toneladas de resíduos sólidos e gasosos, tanto no setor de transportes
quanto no de consumo. Segundo Inventário da Emissão de Gases realizado pelo
ICLEI (Local Governments for
Sustainability – governos locais pela sustentabilidade, em tradução livre),
74% das emissões de gases poluentes vem dos transportes, 18% da energia
estacionária e 8% de resíduos. Com nenhuma política alternativa de transporte
ou de energia, as emissões são estimuladas em projetos urbanos como o BRT, pelo
aumento do fluxo de carros e retirada dos filtros naturais de ar que são as
árvores e áreas verdes.
Salvador é cerceada por um padrão de
urbanização territorial segregacionista, que gera periferização, como mostra
pesquisa realizada pelo Centro de Recursos Humanos da Universidade Federal da
Bahia, em que foi evidenciada a organização territorial soteropolitana marcada
por diferenças econômicas e raciais, informalidade e a precariedade, em fatores
urbanos e de mercado, predominantemente
em áreas como a do Subúrbio Ferroviário e a área norte do miolo urbano (parte
geográfica central do município). Essas regiões são marcadas pelo baixo padrão
urbanístico em relação às áreas mais caras da cidade: menor pavimentação;
presença de foças e esgotos a céu aberto; precária coleta de lixo e limpeza de
ruas; construções em locais de risco e maior distância dos centros comerciais.
Ou seja, os territórios com índices socioeconômicos e de urbanização mais
baixos e as pessoas que neles residem são os que mais sofrem com a falta de
sustentabilidade.
A carência de medidas
assistencialistas aliada ao crescente desemprego, como consequência da
discrepância socioeconômica evidenciada em sua divisão territorial, a capital
baiana é a segunda cidade do Brasil com maior número de pessoas mortas por
crimes violentos, segundo o 11° Anuário Brasileiro de Segurança Pública,
publicado em 2017 pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública. Nesse sentido, a
precarização dos territórios influencia nichos de violência e crimes em seu
domínio, com o estruturação das facções (organizações criminosas) que encontram
apoio e conflitos em agentes de instituições estatais, como a Polícia Militar.
Como mostra indicadores do
Programa Cidades Sustentáveis, que analisou dados da cidade de Salvador de 2013
a 2016, o município deixou a desejar em fatores que influenciam diretamente a
sustentabilidade, como reflorestamento de áreas desmatadas; índice de perda de
água tratada; recuperação de materiais reciclados; ações afirmativas para
redução da desigualdade; áreas verdes; congestionamentos de trânsito; crimes de
violência; desemprego e desigualdade social.
Iniciativas de promoção de
igualdade e inclusão social são necessárias para a resolução das diferenças
socioeconômicas existentes, como responsabilidade do estado, enquanto credor de
urbanização, implementar soluções que permitam a plena utilização, locomoção e
bem-estar da população perante a cidade. É preciso retomar o significado de progresso
em Salvador, para que a cidade faça sentido como geradora de riqueza e como lar
para seus habitantes, aliando sociedade e meio ambiente, para que assim um
futuro participativo possa ser traçado além do concreto e asfalto.
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